Tese de João Vilnei de Oliveira Filho | Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

É a partir da casa, sobre-por-e-com ela, que a “Casa Impossível” foi construída. No desenvolvimento da pesquisa, sentimentos que emanam da ideia casa, como segurança, intimidade, vida comum e partilhada, dão norte a um modo específico de apropriação da cidade, experimentada como espaço de produção artística. Uma cidade que precisa transformar-se em casa para ser trabalhada.

A “Casa Impossível” é uma pesquisa teórico-prática cujo cerne está no desenvolvimento de ações na cidade, especialmente no campo da performance, que promovam o surgimento de relações de intimidade. A partir das discussões sobre textos que tratam de performance, casa, jogo, cidade e comunidade, foi reunido um grupo de artistas e autores que procuram desconstruir, em diferentes níveis e de modos distintos, as separações entre espaço público e privado, dentro e fora, rua e quarto, casa e cidade.

A pesquisa relaciona o universo pessoal, social e académico, utilizando conceitos e métodos de variadas disciplinas em volta dos temas abordados. Essa caraterística está patente na organização do documento final, que em sua primeira parte reflete as etapas de construção da pesquisa, destacando em cada uma delas os temas que estavam em evidência, nomeadamente: a “idiorritmia”, discutido por Roland Barthes, como experiência social de vida partilhada, e a construção do lugar pela produção artística contemporânea, no primeiro; a possibilidade de construção de um método de pesquisa em arte baseado na “Crística do Processo”, discutido por Cristina Salles e na “cartografia”, que beba na teoria do “jogo” de Huizinga e Caillois, onde acaso e cotidiano são assumidos como ferramentas de construção, e a “performance” como prática artística, por excelência, jogável, no segundo; a transição da ideia de protótipo para a de ação, e a casa como espaço de construção de intimidade, no terceiro.

Este documento é construído de tal maneira que permite ao leitor definir um caminho na sua leitura, de forma a aproximar a sua experiência daquela vivida durante a construção da própria pesquisa. As particularidades e justificativas dessa leitura incomum são apresentadas no capítulo 2 que prepara o leitor para o capítulo seguinte, onde são apresentadas, ao pormenor, 26 ações desenvolvidas no interior da pesquisa e o material definidor de todo o desenho da investigação.

Na análise final constatam-se as dificuldades envolvidas num projeto como a “Casa Impossível”, discute-se a construção do texto como ação prática, e destaca-se a importância, para o artista que usa a cidade como espaço de intervenção, de se relacionar intimamente com ela.