Tese de Sérgio Eliseu | Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

A relação entre tecnologias de Realidade Aumentada (RA) e a produção artística é a área de investigação desta tese e a sua utilização na criação de estratégias narrativas assentes na ação do público o principal objeto de estudo. Trata-se de um território onde se verificaram recentemente importantes inovações técnicas e que se apresenta com um forte crescimento ao nível de projetos artísticos que, de forma bastante heterogénea, procuram despertar um papel ativo nos seus utilizadores, levantando novas questões em torno das relações espectador/criador/espaço da arte. Teve-se como ponto de partida múltiplas intervenções no campo das artes plásticas, onde se exploraram diversas estratégias de interação e imersão, para assim se questionar de que forma as narrativas, que se configuram na ação do público, convergem na produção artística implícita na tecnologia da RA. 

Que tipo de configurações narrativas emergem e como? De que forma a tecnologia da RA contribui, como elemento distintivo, para a prática artística atual? Estaremos perante um novo paradigma? 

Procurando aprofundar estas e outras questões que se foram levantando no decorrer da investigação e de modo a compreender melhor o presente contexto artístico neste âmbito, os trabalhos enriqueceram-se transdisciplinarmente na definição de estratégias e partilha de conhecimentos com diversos sectores do conhecimento científico. Situação apenas possível graças a parcerias estabelecidas com várias instituições que assim abriram um caminho de produção e experimentação colaborativa. Como resultado, foram apresentados publicamente diversos projetos artísticos suportados pela exploração de várias opções técnicas presentes na tecnologia da RA, tendo em conta múltiplas perspetivas e possibilidades também presentes na ação indeterminada do público que, com todos os seus sentidos imersos, pôde experienciar multidimensionalmente as obras não apenas a partir de conceitos simbólicos ou abstratos, mas diretamente, permitindo-nos assim integrar a prática artística e o discurso numa reflexão estética de que esta dissertação é fruto. 

Conclui-se do estudo que a visão de um “mundo como um quadro”, a velha máxima dos nouveaux realistes, sofreu uma mutação e, atualmente, a apropriação direta dos fragmentos da realidade extravasa-se bem para lá da reciclagem poética de outrora. A conexão entre arte, realidade e vida quotidiana pode com a RA ser levada a outras dimensões, através de uma apropriação mais profunda da realidade, onde experienciamos e interagimos “o mundo como uma C.A.V.E.” (Cave Automatic Virtual Environment) e onde se configura, cada vez mais, um novo paradigma de produção artística onde a distinção entre o virtual e o real se dilui.